26.09.2016
Começou
mais um dia na tão louca rotina que é o mais fiel possível à palavra: todos os
dias, mas todos os dias, apanhar o comboio - relativamente cedo – para o porto,
apanhar o metro e entrar na infernal Faculdade de Psicologia. Não que seja
infernal por trazer o peso na consciência de ter entrado onde não queria,
aliás, foi a primeira e única opção em que eu veria num futuro a longo prazo,
apenas a caracterizo assim porque preferia estar em qualquer lugar do mundo
menos aqui. Uma aula bastou para me encher a cabeça de vontade de voltar para o
meu ninho, o meu canto onde eu reconheço que, apesar de enfadonho, é a minha
felicidade. Só nesta aula tive a completa noção de que o meu cérebro não está
preparado para enfrentar mais um ano de investimento e dedicação, há coisas
mais importantes.
De
tarde, após a aula à qual nunca posso faltar, fui passear - fisicamente, porque
a mnha cabeça esteve o tempo todo em outro lugar que ainda não quero revelar –
para a baixa. Sempre adorei lá ir, sou uma total viciada em lojas e detesto
perder uma oportunidade de compra, mas hoje foi estranhamente diferente, a
minha impaciência não me deixou prestar atenção a qualquer saia engraçada ou
blusa em saldo. Nem sou de me cansar rápido, mas hoje cansei-me de tudo. Gulosa
de nascença fui comer um McFlurry de Snickers, uma delícia que só descobri a
semana passada (isto devia ser um pecado maior que a gula) totalmente sozinha e
sentei-me a apreciar o meu belo gelado e aqui começou o pico da minha reflexão
diária. Estando o McDonalds cheio de grupos e pares levou-me a pensar no que os
outros pensariam ao ver-me sozinha - não
que me interesse o que pensam, de qualquer das maneiras eu não pretendia sair
de lá.
“Será que está à espera
de alguém que a deixou pendurada?” foi o meu primeiro pensamento. Claro que
isto era uma hipótese e, se fosse verdade, eu não ia desperdiçar um belo
descanço a comer um gelado apenas porque fui abandonada no altar dos deuses.
“Será que está a empatar tempo para ir a algum sítio ou ir ter com alguém?” não
deixava de ser verdade, mas foi muito mais que isso. “Será que ela se sente
sozinha?” outra questão pertinente e repleta de veracidade, mas nem sempre só
significa triste. Na minha cabeça surgiu o que penso ser o mais próximo do que
sinto: quero e posso estar sozinha, sou demasiado independente e confiante em
mim para só poder dirigir-me a sitios públicos e sentir-me bem neles se tiver
comigo alguém que, se calhar, nem vejo do coração.
Neste momento, ele
perdeu alguma importância, ainda que fosse a principal razão para eu ter
desistido de investir o meu tempo em futilidades como moda. O todo que ele
significava, a intensidade do “quero-o comigo, de novo” esbateu-se e foi
diminuída pelo poder do “eu estou bem só”. Andava pela ponte D.Luís a passear.
E se eu, num acidente propositado, passasse por lá? Como será que ele reagiria?
Pior, como será que eu iria reagir quando o visse de novo e soubesse que tanto
mudou. Por não saber a resposta a nada disso fiquei quieta a acabar o meu delicioso
e companheiro gelado.
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