4.8.14

     As noites são mais duras, puxam demasiado por mim e levam ao máximo as minhas lágrimas. Peço-me que pare, que o mundo pare e me leve a alma, me leve a dor. Levanto-me e vou buscar um café, não tão quente quanto o teu corpo e não tão saboroso como o teu amor, mas é a única coisa que tenho que me vicia, que me aquece, tal como tu fazias.
      Encontro, lentamente, uma fuga à dor, ao pânico que me leva as mãos à cabeça e o porquê invade o meu pensamento. Porquê? Talvez a pergunta esteja errada, talvez em vez do "porquê" deva perguntar-me "para quê". Para quê passar por isto? Para quê ter de aprender a lidar com tanta dor que me arranca o coração mil vezes por minuto? Continuo sem respostas mesmo tendo mudado a pergunta. 
      Acabo por entrar num estado de adormecimento, de anestesia que não me permite pensar, que não me permite sentir mais que o vazio. Deito-me na cama porque me sinto exausta, me sinto no limite da dor e preciso de arranjar forma de parar de o sentir. Quero de novo aquela alegria que me preenchia, aquela alegria que te fazia perguntar-me, todas as manhãs, "como consegues acordar tão bem disposta?". A resposta a isso sei. O amor faz-me isto, faz-me bem, faz-me ficar de bem para o mundo. Mas agora não. Agora cada manhã é cinzenta e, mesmo não estando a chover, as minhas lágrimas fazem esse papel. 
      É assim que passo as minhas noites até ao amanhecer, num completo desespero, num completo vazio em que não quero permanecer, em que não mereço permanecer. 
      Não quero voltar a adormecer sem ti, sem ouvir tudo de bom que tens para me dizer, tanto para me amar. Não quero voltar a chorar. Não quero ficar assim, sem ti. 
       Oh! Claro que sou forte, mais até que o café, mas também me desfaço como um grão de açúcar. 
Vou parar de correr, vou deixar-me levar e vou deixar que a vida me mexa, me envolva com o resto do mundo. Por muito que custe, tal como o café, também hei de esfriar.

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